Há alguns dias, eu estava a escutar um podcast e, num momento de apresentação de uma pessoa, eu escutei a pergunta: Qual a sua memória mais antiga da Internet? E isso fez eu perder completamente o foco do que eu estava escutando e comecei a desbravar as minhas memórias por esse momento crucial da minha vida, dezenas de anos atrás.
Nasci no início dos anos oitenta e o meu pai sempre trabalhou com computadores. Nunca entendi direito o que ele fazia e acho que, hoje em dia, é tarde demais para perguntar. Nos anos noventa, tenho a lembrança de que ele trabalhava com Marketing ou algo relacionado a isso. Nesse momento, ele resolveu comprar o primeiro computador da casa.
Não sei direito quando que isso aconteceu, mas eu estava na sétima série, deve ter sido em 1994 então. Eu morava em Belo Horizonte e os meus avôs paternos moravam em São Paulo. Durante uma visita à cidade, fui com o meu pai para a Santa Cecília comprar algumas peças, uma placa mãe, monitor e o resto do que era necessário para montar um computador na época.
Não lembro do computador sendo montado, mas lembro de usá-lo por vários anos. O 486 que chegou em casa em 1994 deve ter durado até eu entrar na faculdade, no início dos anos 2000. E foi nesse computador que acessei a internet pela primeira vez.
A minha memória mais antiga da internet não está ligada à primeira vez que usei a internet. Ela envolve a primeira vez que mostrei a internet para outras pessoas.
Em 1995, eu estava na oitava série, estudando no Colégio Marconi em Belo Horizonte. Em algum momento do segundo semestre, a minha casa passou a ter acesso à internet. Ou seja, além dos CDs de enciclopédia que tínhamos em casa, agora eu poderia acessar a internet para aprender alguma coisa. Isso era um problema pessoal já que eu mal conseguia entender qualquer coisa em inglês, mas isso é algo para outro momento.
Acho que tinha que fazer um trabalho em grupo e acabei indo para casa com os outros alunos para pesquisar alguma coisa na internet. Acredito que eu era a única pessoa do grupo que tinha acesso à internet e fomos lá para minha casa ver o que era possível.
Não tenho a mínima ideia do que eu precisava pesquisar, mas a conversa entre os adolescentes ali migrou para uma conversa sobre carros. Lá fui eu descobrir que empresas tinham site na internet daquela época. Por sorte, a Ferrari ou alguma marca italiana dessas tinha e eu cliquei em uma das imagens para ver com maior resolução.
E essa é minha memória mais antiga da Internet. Eu clicando numa imagem em resolução alta de um carro italiano, direto do 486 com um modem medíocre e uma conexão discada. A cada minuto, uma linha de pixels aparecia no monitor que eu tinha e nada acontecia. Os meus colegas de escola não entendiam a demora e eu não sabia explicar o que estava acontecendo e nem quando que a imagem ia aparecer de verdade.
Em outras palavras, a minha memória mais antiga da Internet foi composta de mistério, curiosidade e frustração. Só não esperava que essa seria minha experiência online por todo esse tempo.