Já tem alguns anos que ando a lançar algumas músicas no meu bandcamp como Muqdisho. Porém, no meio de agosto, um projeto colaborativo que participei acabou sendo lançado pelo selo independente Brava, de São Paulo.
Esse foi meu primeiro projeto musical lançado por um selo e eu não poderia estar mais feliz por isso, então, deixa eu falar um pouco sobre esse disco.
Difference and Repetition é um EP de quatro músicas que começou a tomar forma no início de 2020. Foi nessa época que o Dramón começou com um projeto de um ano para compor uma música diferente por semana. Dentre as músicas lançadas naquele ano, duas foram criadas pela parceria de Dramón e Muqdisho.
E ambas músicas começaram de forma semelhante: um arquivo de música compartilhado do Brasil para a Alemanha. Os sons sendo feitos primeiro por Dramón, e depois por Muqdisho.
O trabalho musical começou de forma experimental, com músicas sem propósito e melodias emocionantes. Foi assim eu recebi os arquivos, mas não foi assim que elas ficaram depois que comecei a trabalhar em cima delas.
As composições foram cortadas em pedaços mais curtos e gravadas em loops de fita cassete para serem tocadas de forma mais abstrata, por assim dizer. Esse processo de desconstrução sonora foi feito ao longo de horas, cortando trechos musicais e gravando tudo analogicamente em outras fitas cassete. Aumentando o lado experimental dessas músicas devido a toda a distorção inerente ao meio onde foram gravadas.
“There Is Movement In The Depths – Take 3” foi a primeira música a ser feito desta forma. Alguns meses depois, a música “Difference and Repetition” foi gravada de forma semelhante. E esse foi o fim da colaboração sonora de Dramón e Muqdisho em 2020.
Mas o projeto continuou.
Depois de algumas conversas ao longo dos anos, no início de 2023, a colaboração sonora entre Dramón e Muqdisho voltou a ser realidade, e duas músicas foram propostas para preencher um EP.
Foi assim que “A Dancing Sensation in the Anterior Chamber” e “Over Steep Water Waves” se tornaram músicas. Ambas foram criadas usando a mesma fórmula das músicas anteriores. Uma faixa de São Paulo a Berlim pela internet é cortada, dividida e regravada em loops de fita para ser reproduzida em um 8-track de forma quase textural.
O nome do álbum vem do livro “Diferença e Repetição” de Gilles Deleuze, que explora filosoficamente os temas da pura diferença e da repetição complexa. Daí surgiu a referência para as músicas compostas à distância por Dramón e Muqdisho.
Visualmente falando, o projeto foi construído de forma semelhante. Além dos sons, a direção da colaboração aqui veio de Muqdisho para Dramón. As fotos analógicas foram tiradas em Berlim e os rolos dos filmes foram enviados para São Paulo.
Dessa forma, foram criadas sobreposições fotográficas de diferentes lugares, usando a criatividade de cada um e explorando outras possibilidades. Assim como a música deste álbum, fechando o círculo de colaborações visuais e sonoras.
Se você gostou do que leu por aqui, aproveite para escutar o disco direto no Bandcamp da Brava.