Até alguns dias atrás, eu nunca tinha ouvido falar do David Berman e do Purple Mountains. Acabei de deparando com esse disco quando vi uma lista que o Marc Masters publicou no seu twitter sobre os possíveis melhores discos de 2019. Peguei essa lista e fui explorando as bandas que eu não conhecia e, dessa forma, acabei me deparando com o Purple Mountains.
Ontem, eu percebi que deveria ser a terceira vez nessa semana que eu acordei cantarolando Margaritas at the Mall e resolvi explorar um pouco mais que disco que é o Purple Mountains e porque que eu gostei tanto desse disco que tem uma sonoridade tão diferente daquela que eu costumo gostar.
Eu não sabia de toda história do David Berman e do Silver Jews, a banda que ele fundou em 1989 e onde tocou durante 20 anos. Eu não sabia de seus problemas com drogas e nem da sua quase morte no mesmo quarto de hotel onde Al Gore observou a recontagem de votos que aconteceu em 2000. Também não sabia da sua estranha relação com seu pai Richard Berman, um lobbyista de Washington. E, finalmente, eu não sabia que David Berman se matou menos de um mês depois de lançar o Purple Mountains.
Antes de saber da sua morte, eu interpretava o disco de uma forma. O disco me soava como um forma bem interessante de tratar sobre o fracasso, sobre depressão, sobre suicídio e sobre morte. Tópicos que não são muitos simples de tratar na vida real e na música mas David Berman trata de todos esses tópicos e de muitos outros de uma forma interessante e cheia de uma melodia de indie rock.
O Purple Mountains canta sobre depressão e sobre fracasso como uma questão de fato. Não existe nada romântico nessa tristeza e, ao mesmo tempo, não existe nada de especial em se sentir assim. Parece que, para David Berman, a depressão é algo inevitável e de onde ele não pode e nem consegue escapar. Algumas vezes, ele até canta sobre isso como se fosse algo cotidiano.
É estranho ver como David Berman canta sobre tristeza e sobre depressão de uma forma feliz. É mais estranho saber que ele estava cantando sobre tudo isso, fazendo parecer com que tudo estava bem com ele. Foi ai que veio minha surpresa quando descobri que não eram músicas felizes ou uma forma dele lidar com a sua tristeza mas que ele havia cometido suicídio poucas semanas depois de lançar o disco.
Entre as músicas do Purple Mountains, algumas não saem do repeat aqui no meu computador. Uma delas é a Margaritas at the Mall que parece estar falando, de forma filosófica, sobre a presença de deus e do purgatório. Uma música liricamente densa mas que acaba levando a algo quase niilista quando chega no refrão. Como se as perguntas teológicas que David Berman faz não vão chegar a lugar algum então o melhor seria aproveitar o que você tem.
Em She’s Making Friends, I’m Turning Stranger, ele parece cantar sobre o fracasso da sua relação com sua esposa Cassie Berman e como ambos estavam caminhando em direções opostas em seu relacionamento. Nights That Won’t Happen é outra música que não sai do repeat aqui em casa. Ela tem um ritmo mais lento e parece enumerar os pontos positivos e os negativos de continuar vivo. Tudo isso com a melodia mais triste e bonita que existe em todo o Purple Mountains.
É estranho para mim gostar tanto de um disco como esse e, ao sair pesquisando sobre uma possível tour européia da banda, me deparar com a morte do David Berman. E por isso mesmo fica difícil escrever uma conclusão sobre esse disco. Posso apenas dizer que vale a pena escutar o Purple Mountains e que ele é, facilmente, um dos melhores discos que eu descobri em 2019.