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Hunger

  • cinema
  • 4 min read

Hoje eu acordei mais cedo que o normal e resolvi aproveitar meu tempo e assistir um filme. Pensando que só teria cerca de uma hora e meia antes de começar meu dia, escolhi o primeiro filme que se encaixasse nesse período de tempo. Não imaginava a sorte que eu teria quando eu escolhi assistir Hunger.

é com uma estranha calma e atenção estética que o filme explora o extremo físico e o extremismo político ao recriar o que ocorreu na prisão de Maze na Irlanda do Norte. Foi lá que os militantes do IRA – Exército Republicano  Irlandês – realizaram uma série de prostestos contra o governo britânico em 1981 que culminaram numa greve de fome que culminou com a morte de Bobby Sands e de mais 9 outros prisioneiros. E a brutalidade do tema é tratada de forma tão paciente e cuidadosa pelo diretor Steve McQueen que o filme vira algo quase poético, o que gera um estranhismo interessante.

Se o filme pudesse ser resumido em uma palavra, ela seria dignidade. A dignidade que falta aos prisioneiros junto com seus status político e que é motivo de luta diária quando eles se recusam a usar uniformes de prisioneiros, sobrevivendo em pequenas celas cercados de comida estragada, excrementos e vermes. Nus e fracos, eles parecem relutantes da sua própria humanidade quando são arrastados e forçados a se banhar de forma violenta e abusiva. Mas aqui todos os conceitos de decência e crueldade parecem invertidos, o que pode ser visto no terror e confusão que cerca os guardas e na calma quase zen de todos os prisioneiros.

httpv://www.youtube.com/watch?v=ZipYYoUteCw

As três partes do filme tratam de partes diferentes dos protestos, sendo que cada trecho tem uma atmosfera particular. Na primeira parte vemos o que foi chamado de protesto de lençois, quando os prisioneiros se recusaram a se banhar, a usar roupas. Ainda podemos ver a apreensão de um novo prisioneiro ao ver a situação onde ele se encontra e como será a sua realidade a partir de agora. Na segunda parte, e a mais interessante, somos apresentados a Bobby Sands, representado por Michael Fassbender, é uma figura de carisma e cheio de vida, que escolhe o martírio de forma racional e calculada. E numa das melhores cenas do filme, ele se explica a um padre amigo sobre seus motivos. Esse debate é uma única cena de cerca de 20 minutos quase que inacreditável do ponto de vista técnico e cinematográfico. Essa cena é o ponto alto do filme, Steve McQueen trabalha tão bem com as imagens do filme até esse ponto que chega a ser um pouco inesperado quando ele abandona um pouco essa estética para dar espaço a esse diálogo. Já a terceira parte do filme mostra a greve de fome que dá nome ao filme. A resistência que até então era feita de termos abstratos se transforma em algo concreto. E agora acompanhamos a deterioração da carne e do corpo em direção àquilo que eles acreditavam de verdade.

O que mais gostei no filme é a intensidade do trama criado para contar a história da resistência irlandesa. Tudo no filme é muito direto ao ponto e nada é explicado. O expectador apenas acompanha o que aconteceu, se tornando uma testemunha das circunstâncias que causaram o martírio de tantos. Vale muito a pena assistir.

Saiba mais sobre o filme visitando o site oficial no hungerthemovie.co.uk, lendo na wikipedia ou no imdb.

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